terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Guess who’s back!

Entonces muchis, voltei a este blog antes do esperado porque precisava contar uma coisa. Eu sabia que a nossa viagem de vacaciones traria risos, fortes emoções, situações diferentes, mas jamais imaginei que envolveria cenas de filme americano retratando a vida de imigrantes mexicanos e coiotes tentando atravessar a fronteira dos EUA. A diferença é que os mexicanos da vez fomos nós, o coiote era o ônibus à la pau-de-arara e a fronteira era hondurenha (imagino que o bom humor dos oficiais seja o único aspecto semelhante ao dos ianques). Ah sim, e o detalhe é que todos estávamos querendo passar legalmente. Tirem as crianças da frente do computador porque o vocabulário a seguir é deveras impróprio e eu estou a ponto de causar outro mal-estar diplomático.

Enfim, vamos à odisseia (agora sem acento, verdade?).

Domingo, 20 de dezembro, 5h30
Já estávamos todos no ônibus, em nossos lugares aleatórios (sim, porque vc compra a passagem com o lugar marcado, chegando lá ninguém olha seu papel e vc senta onde quiser), felizes, saltitantes e esperançosos quando o ônibus começa a encher, e encher e encher mais um pouquinho até que já estivesse com 47 pessoas sentadas, 23 em pé e um tatu empalhado em cima da minha mochila!!!! Sério, o senhor de bigode avantajado, com botinha Zebu e uma voz bem irritante entra no ônibus sem pagar passagem, pega um lugar na frente do nosso e põe seu tatu empalhado de estimação em cima das minhas coisas! As risadas já começaram quando o Fábio achou que aquilo fosse um porco assado. O que não seria tão estranho assim, já que a galera bateu um rango lindo dentro do ônibus com direito a quitutes de botequim de beira de estrada, coxas de galinha, arroz, feijão e ausência de talheres. E nós 4 com nossos humildes sanduíches homemade.

Beleza, todos em seus lugares (inclusive o tatu) e começa a discussão entre quem entrou por último, mas que tinha passagem comprada, e as pessoas sem bilhete e ocupando o lugar das outras. Eis que aparece a Chimoltrúfia guatemalteca* - com seu devido bilhete – e grita com o pai, com o motorista, com deus e o mundo pedindo o seu lugar (com razão). Daí que percebi que a cultura chapina espera o caos ser instalado para agir. Prevenir que nada, o rock aqui é remediar com medicamento genérico. Fim de cena: um carinha da empresa obrigou as pessoas que estavam sem bilhete a se levantarem (com uma certa relutância, diria), botou o resto pra sentar e quem sobrou, adivinhem, ficou em pé numa viagem que duraria 10 horas! 10 HORAS! Isso com ônibus já andando. Lição aprendida nº 1: compre seu bilhete, chegue com antecedência, leve a bagagem em cima com você, não espere alguém checar sua passagem (jamais acontece) e nunca, mas nunca leve um animal empalhado na viagem.

1ª parada na imigração guatemalteca: tudo certo, passaportes e vistos certos, carimbos e seguimos viagem. Nem deu tempo de sentir saudade e já estávamos parados na (música de filme de terror, abaixam-se as luzes e mete-se a cara do Zelaya pra dar um plus no filme de terror que vem por aí)... IMIGRAÇÃO HONDURENHA MOTHERFUCKER.

Ok, filme de terror não é pra tanto, no máximo uma novela venezuelana com locações toscas como aquele lugar. Na fila do passaporte eu percebi que não havia muita gente lá, e depois descobrimos que metade do ônibus simplesmente não desceu (e nos ficamos perguntando se ao final não deveríamos ter feito o mesmo). Entregamos passaporte, verificaram nosso visto e ficaram meia hora analisando tudo. Foi quando perguntaram à Fiorella (peruana) onde estava o visto dela. Ela explicou que por ter a residência temporária (comprovada no passaporte e numa resolução que ela levou), não precisava de visto para entrar no país como nós, brasileiros, que tivemos que pagar 40 dólares após as férias do Zelaya na embaixada do Brasil (antes disso brasileiro não precisava de visto). A Fiore, inclusive, foi a todos os órgãos possíveis, e ao Consulado de Honduras, perguntar se precisava de visto. Todos disseram que não, justamente por ela já ter a residência. Infelizmente os nossos amiguinhos mal-informados (mal-comidos e mal-amados) da imigração não acreditaram e aí começou a encrenca.

Pediram a cédula dela (o que não existe para residente temporário, só para permanente). Dissemos que não existia. Ele voltou ao papo do visto. Discutimos mais uma vez, até que ele disse “Entonces tienes que regresar”. Neste momento todo meu bom humor e amor pela América Central até então converteram-se numa vontade inexplicável de pular no pescoço dele e enforcá-lo com o próprio bigode. Explicamos mais uma vez que o consulado do país dele falou que ela não precisaria do maldito visto. Ele responde dizendo que a imigração não tem nada a ver com o consulado. PORRA, ENTÃO QUEM TEM? Respira, ok, ufa. O cara foi se emputecendo de uma tal maneira com nós 4 e disse que tudo que ele havia dito era indiscutível e que ela teria que voltar. Não nos deixaram nem telefonar pra quem confirmou a NOSSA informação.

Como bons mosqueteiros, dissemos que voltaríamos juntos. Voltamos ao ônibus para pegar as coisas, eu xinguei tudo e todos que podia naquele momento e pegamos uma van de volta para a imigração da Guatemala. Nem pra deportar Honduras serve, porque no mínimo teria que pagar o transporte de volta. Ainda frustrados, tristes e desolados, resolvemos na inocência pedir uma carona ao oficial da Guatemala até o ponto de ônibus na cidade (estávamos no cu do mundo). Quando tudo está ruim, pode-se sempre piorar, certo? Foi quando um policial semi-analfabeto com dentes podres nos parou de novo, saímos do carro, a carona foi embora porque os taxistas começaram a reclamar que ele estava tirando clientes deles etc etc etc. Bem, o homem nos levou pra debaixo da árvore, pegou os passaportes e analisou-os por meia hora, folha por folha. O cheiro da propina nos rodeava quando ele perguntou quanto o oficial nos tinha cobrado pela carona. Ao olhar o visto vencido da Fiore (mais uma vez ela, tadinha) para os EUA, ele disse:

“—Ei, seu visto está vencido.”
“—Claro, eu estou na Guatemala e não nos Estados Unidos.”
“—Mas vocês têm que ter visto para a Guatemala.”

E temos, queridão, temos. Daí a figura chamou um amigo – ou comparsa, sei lá – que veio com toda sua falsa pompa e braguilha aberta para revisar mais uma vez os passaportes. Mais 10 minutos e nos liberaram. Estávamos prontos pra pegar um táxi furreca e ouvir Jordy** (aquele menininho francês que fazia sucesso nos anos 90 com a música sobre a Alison) no caminho até o ponto de ônibus.

Uma sorte tivemos: o ônibus estava ali e o trocador nos perguntou se queríamos subir porque havia lugar. Sentamos eu, Fábio, Fiore, Guto e Murphy do nosso lado. Meia hora depois o cara chega e diz que 2 de nós teriam que continuar viagem em pé porque havia duas pessoas com passagens compradas e lugares reservados. Mais um semi-barraco aqui, uma indignação acolá e só uma pessoa subiu e acabou que o povo se ajeitou nas cadeiras. Mais 4h de ônibus, alguns sanduíches, outros xingamentos e até umas risadas no final das contas pra poder aliviar a dor da deportação compulsória. Sério, foi a 1ª vez na vida que desejei mortes dolorosas sem piedade para alguém. Juro que não me arrependo, mas já me perdoei por ter envenenado meu coração dessa maneira.

Segunda-feira, 21 de dezembro, 10h30 
Fomos peregrinar por embaixadas para tirar as dúvidas porque ainda queríamos fazer o resto da viagem. Nicarágua e El Salvador: tudo certo, residentes temporários não precisam de visto para América Central.

O Consulado Hondurenho estava de recesso, mas a Fiore ligou para a imigração e conversou com 3 pessoas diferentes que disseram a mesma coisa... Até que ela pediu para falar com uma 4ª pessoa, que disse “sim, vc precisa de visto”. Eu juro que vou terminar essa história aqui senão eu vou transmitir todo meu poder de fúria em um único post.

Para ser ainda mais irônico, a deportação foi um bem maior. Descobrimos, depois, que para ir a Nicarágua precisamos passar por Honduras e, mesmo sem ficar no país, teríamos que ter um visto com duas entradas e só tínhamos uma. Ou seja, ao voltar da Nicarágua os deportados seriam os brasileiros hahahaha. Decisão saudável e feliz que tomamos: passar o natal por aqui, viajar pelas praias da Guatemala e fim de ano em El Salvador em meio a vulcões, lagoas e pupusas***.

E tudo na vida acaba tendo um sentido né? Eu nunca iria imaginar que precisava passar por isso tudo para aprender que tatu em espanhol é armadillo.

Agora sim, até o ano que vem muchachos.


* Chimoltrúfia - personagem da D. Florinda naquele seriado do Chespirito que se passava num hotel.




** Vai me dizer que não se lembra do Jordy?


  *** Pupusa: tortilla salvadoreña com recheio de feijão y otras cositas más. 



## Ao som de Manu Chao - Clandestino: "peruano... clandestino / africano... clandestino / marijuana... ilegal"

14 comentários:

Letícia Rezende de Abreu disse...

Reeee!
Adoro seus posts! hahaha
Qdo vc falou em deportacao pensei que fosse para o Brasil! Quase me mata aqui!heauehua Ainda bem que de tudo tem seu lado bom.... Um ótimo Natal e Ano Novo pra vc! Divirta-se muuuuito e dps vem contar aqui pra gente! Beijaoooo , Tita!

Rafael Moura disse...

UHAUhUAhuHAuhAUhuAHuA

Sensacional, Trila!

As "otoridades" de lá se acham o máximo...

Que doideira.
Pelo menos nada de ruim aconteceu!

beijos

Mateus Cruz - @SS disse...

Fantástico o post!

Anônimo disse...

Outro que achou que fosse para o Brasil :- )

Aproveite!

Igor Gomes

Anônimo disse...

Gataaaaa....
Agora sim temos mais intimidade....
Obrigado Honduras por ser tao receptivo, obrigado Lula por apoiar Zelaya, obrigado Zelaya por existir.
Sem falar no agradecimento continuo que eu tinha durante a viagem pro dono do nosso amigo tatu (vulgo Armadillo) que a cada 5 minutos atendia uma ligacao e falava no volume 47 da Tv Sony da minha casa....
Agradecemos do fundo do nossos humildes coracoes deportados e desolados a grande experiencia do dia 20 de Dezembro de 2009 en Guatemala/Honduras (quase)...
Sucesso Gata

Guto (seu primo da Guatemala)

Carine disse...

Re!!! comecei rindo muito, mas sinceramente, fiquei muito preocupada.... ainda bem que nada de ruim aconteceu, e daqui pra frente é rir da história.... bem, pelo menos se for uma próxima vez, vá com alguem experiente nas viagens! ( nao um coiote por favor)... Mas tudo é experiência....
Beijos, e te cuida!!!
KK

Cazulito disse...

Brother... Que vontade de matar todos! Comecei o dia de mau-humor só por causa da sua desventura.
HAUIHAUHIUHAUHAIUHAIHIAHI

Mas antes um armadillo do que um crocodilo, convenhamos. #tudumPSS

Anônimo disse...

Nada melhor que passear nos pequenos paises da américa para saber o quanto o nosso Brasil é organizado...rsrsrs....

Bjao Renatoooooo

Aline disse...

Prima...
Isso realmente foi uma "aventura", meio desastrada, mas foi!!rs
Mas q bom q no final deu td certo!!hehe
bjoksssssss
E ótimo fim de ano!!!!!!

Marto disse...

TOMAR NO C* ESSA P*RRA DESSE CAR*LHO DESSA HONDURAS DE M*RDA!!!

Elisa Ribs disse...

Mas essa galerinha do barulho só se mete em confusão hein? Ainda bem que existe a palavra "carajo". Pq numa hora dessas, só o "carajo" salva. Feliz Natal, queridona! E um ano novo fodástico em meio a vulcões - e sem confusões. Besos.

Anônimo disse...

Viva Tegucigalpa!
Por isso que Honduras continua(rá) sendo...Honduras! ¬¬

Sugestão de fim de ano: escreva um livro, por favor!!!! Seus posts são o que há de sensacional na literatura irônica brasileira! Passo mal de rir (até nos assuntos 'trágicos')!

Como diria o nosso rei: "Bom é ser feliz e mais nada!"

Feliz Natal, braço!!!!
E um Feliz Ano Novo para toda a trupe chapina!!

Ansioso pelo próximo post!

Beijoos!
Guido

PS: Obrigado Skype por existir!

Katarine Rosalem disse...

Menina!!! Tb achei que a deportação seria para o Brasil, graças a Deus não, rsrsrsrs... gente é cada coisa que acontece! se fosse comigo, teria dado na cara do policial fedorento e porcalhão!!! eu hein... rsrsrsrsrs
No mais... Espero que o natal e o ano novo tenham sido menos tumultuado.

Bjos, direto de Morro de São Paulo (BA) - pq eu tb mereço me divertir, hehehehehe... bjos!!

Anônimo disse...

Nossa.. que demais!!!
Caramba.. que história! Com certeza aí na Guatemala deve dar um post por dia.. aki na Índia tb.. é cada coisa que a gente vê.. mas o legal eh que mesmo as coisas ruins que acontecem depois vc rola de rir e vira história pra contar..rsrsrs..

b-jos e boa sorte aí
Julio Viana