A viagem para El Salvador começou e terminou de forma bem tranquila. Sem problemas na imigração (a não ser para o Guto, porque inventaram que ele estava ilegal e que devia uma multa de 2 mil quetzales, mas isso daria um post inteiro se ele tivesse um blog), pessoas mega receptivas e, claro, aproximadamente 77 situações no mínimo cômicas.
Chegamos à capital, San Salvador, onde o Rapha - Aieseco colombiano - nos buscou e nos levou para um terminal de ônibus, porque já partiríamos para uma outra cidade. Aqui cabe un par de parênteses. Nunca sei se falo terminal, estação, ponto, parada ou descida quando me refiro a "lugares para pegar ônibus" na América Central. Todos os que conheci até hoje se configuravam em qualquer coisa, menos em uma rodoviária. Ou seja, normalmente cada empresa tem seu próprio ponto, daí cada vez que você pensa em viajar, deve adicionar à listinha uma bela pesquisa sobre em que zona essa bendita "rodoviária" (reparem nas aspas) vai estar. Claro que a pior parada até hoje foi a da Rutas Orientales, companhia que te "leva" (mais uma vez o grifo) para Honduras.
Rancores diplomáticos à parte, a rodoviária de El Salvador era bem maluca. Imaginem um espaço com um muro no meio, sem placa das empresas nem guichês, milhões de pessoas andando por ali e agentes tentando te convencer a pegar aquele ônibus, mesmo sem ter a menor ideia do destino que te pertence. Achamos nosso bus, e como a voz da experiência da superlotação falou mais alto, resolvemos entrar mesmo faltando quase 1h para a partida. Afinal, há de se garantir seu lugar quando a passagem custa incríveis 35 centavos de dólar. Foi então que o show comecou, e a Fiore, o Fábio e eu (o Guto só iria nos encontrar dias depois) assistimos a tudo de camarote. Pensem em um ambulante vendendo qualquer porcaria dentro do Transcol (para os não-habitantes de Vitória, essa é a nossa querida companhia de transporte público, e dessa vez eu falo sem ironia, porque já estou até sentindo falta), agora multiplica por 57 e eleve à quinta potência: assim é num ônibus em El Salvador.
Vendiam de tudo, e quando eu falo de tudo, é TUDO mesmo. Uma pequena amostra: de sorvetes já nos cones e enrolados num guardanapo a fatias de manga com limão (??); de churrasco a um remédio que, entre outras coisas, prometia a cura da gastrite, cólica, dor de garganta... Uma verdadeira panaceia! Até um vendedor de adesivos à la Manassés (sempre o pessoal do submundo das drogas) apareceu por lá. Mais engraçado que os vendedores eram os compradores. Uma mãe que comprava tudo para o seu filho de 1 ano de idade. Sério, de 2h de viagem, o menininho obeso passou pelo menos 1h40 comendo. Dessa vez não teve tatu empalhado, mas teve um senhor que levou sua galinha viva pra viajar. Ele comprou hambúrguer, banana frita e escovas de dente (eu os alertei sobre TUDO). Depois de todo mundo satisfeito, começa a jogação de coisa pela janela. Numa dessas, um senhor acertou a cabeça do Fábio com um limão e me garantiu risadas até hoje, obrigada.
Isso tudo era pra chegar a Alegria, um povoado onde tem uma lagoa verde, linda e sulfurosa numa cratera de um vulcão. Subimos vulcão acima por muitos minutos e fomos presenteados com um lugar sensacional, mas que, como tudo por aqui, apresenta um enorme potencial de se tornar um Piscinão de Ramos. Mais gente de roupa tomando banho e eu e a Fiorella com nossos biquínis comportados da América do Sul. Acontece que havia uns operários lá fazendo não sei o que e explodindo pedras (uma que quase atingiu a nossa cabeça no meio da lagoa, inclusive) e a pedreiragem rolou solta. Foram aproximadamente 40 minutos ininterruptos de assobios, gritinhos vindo do meio da floresta e pedidos de "tira o baby doll (??)". A gente não sabia se ficava dentro do lago se escondendo e morrendo de frio ou se saía para expor inevitavelmente a figura.
No dia seguinte regressamos a San Salvador para o reveillon, onde passamos com a Brenda - amiga do Guto -, amigos e parentes, entre eles, um primo que não acreditava que não comíamos feijão no café-da-manhã. Rodamos a cidade, que nos surpreendeu pelo lugares bonitos e óóóteeemos pra sair sem hora pra voltar. A única coisa com a qual eu tento me acostumar, mas acabo vendo que não estou 100% integrada na cultura local é a seleção musical dos lugares. De todos onde fui, se em 2 bares tocou rock foi muito. A preferência nacional - ou territorial, no caso - aqui é o tal do reggaeton. É uma mistura de tum-ti-tum com letras capciosas e uma ginga latin-lover. Forçando, poderia dizer que é um pancadão de mullets. Algumas são legais e engraçadas, mas 5h seguidas é um tanto quanto chato, digamos. Na dúvida, vá até o chão e seja feliz. Aqui na Guatemala a gente vai para a boate, escuta as mesmas 10 músicas quando ela está vazia e no fim do rock, as mesmas 10 tocam de novo porque tem mais gente pra aproveitar. DJs limitados, muito prazer.
Na despedida da Fiore, Fábio e eu levamos nossa seleção brasileira. Entre sambas y otras cositas más, o DJ resolveu pôr Créu e Gaiola das Popozudas (e um dia ele tocou Ilariê, juro!). Enfim, tá no inferno, abraça o capeta. Essa definitivamente é a filosofia pra quem quer fazer intercâmbio. Afinal, as chances de você se deparar com coisas inimagináveis no seu mundinho em território nacional são bem grandes.
No reveillon do clube salvadorenho tinha open-oh-my-god-bar com bebidas ruins. E como a vodka de hoje é a dor de barriga de amanhã, meu 1º de janeiro foi regado à água de coco.
Por El Salvador ainda fomos numas praias do pacífico, uma inclusive com pessoas andando a cavalo (e tomando banho de roupa, óbvio) e o pôr-do-sol mais incrível da face da América Central
Para terminar, deixo com vocês com uns reggaetons que provavelmente irão escutar pela 1ª e única vez, enquanto eu terei mais 765 oportunidades certas de revisá-los antes de voltar ao Brasil.
Minha preferida (menos latina e que toca no Brasil):
E essas são daquele jeito!