domingo, 13 de dezembro de 2009

¡Provecho!

Agora que a vida já está mais estabilizada aqui na Guatemala, eu posso me ater aos detalhes aleatórios da vida chapina*. Acreditando que todos tenham lido a Tortilla Vida do Fábio, vou começar comentando sobre os hábitos diários daqui. Bem, eu moro numa casa verde, de esquina, bem próxima à Novartis, onde trabalho. Moram comigo dois brasileiros, o Fábio (conexão Rio-Curitiba), o Guto (conexão São Sebastião do Paraíso-Ucrânia-Plutão) e o Fidel, mexicano que já morou no Brasil e tem seu iPod recheado de pagodes dos anos 90. A dona da casa é a Alba, Albita para os íntimos como nós. Ela mora embaixo, num quartinho do salão de beleza que ela tem (cuja propaganda é um banner com a foto da Britney Spears em sua na época mais cândida), enquanto nós ficamos em cima. Ela, assim como todos os guatemaltecos conhecidos até agora, é um amor e nos trata com uma mordomia que inclui café-da-manhã, jantar e roupas limpas.

Nossa família de propaganda moderna de margarina (ou família moderna de propaganda de margarina, não sei bem) se reúne na mesa da cozinha para o desayuno acompanhado de coisas normais como pão, fruta, cereal e coisas estranhas como o café-da-manhã do Fidel. Não, sério, eu sou uma pessoa de mente muito aberta, de fácil adaptação a inúmeras coisas, mas feijão (no estilo tutu, com forma mais estranha), ovo e uma xícara de pimenta todos os dias é algo a me embrulhar o estômago. Já nos acostumamos a ver, mas a zoação é um tempero a mais nos ingredientes picantes daquela refeição.

O capítulo a parte é o café. Com campos de café dando sopa nas colinas chapinas, o povo aqui insiste em tomar café solúvel no estilo chafé de mais baixa qualidade. Enfim, conseguimos uma cafeteira, mas ainda não acertei na marca do pó. Albita já me falou 10x até onde devo colocá-lo para que fique "forte". Mas é só ela se afastar, que eu acrescento umas colheres a mais e ele continua ruim.

Daí vamos todos juntos para a Novartis, quando um não perde a hora, e aí começa a seção cumprimentos. Você não passa 10 minutos sem receber um hola, ¿qué tal?; ¿como estás?; buenos días, adiós, provecho, feliz navidad, feliz pascua e qualquer outra possibilidade de contato. E ai de você se não responder, eles são capazes de repetir a pergunta até que ouçam uma resposta plausível (normalmente é igual a pergunta, porém com tom de afirmação). A verdade é que todo mundo é extremamente educado, o que te faz ficar com vergonha de não responder. Resultado: eu passei de 3 "Holas, ¿qué tal?" para, aproximadamente, 50 por dia. Sim, porque não importa quantas vezes você vê a pessoa, ela sempre te receberá - no corredor, no banheiro, no restaurante - com um sorriso e o tão famigerado hola, ¿qué tal?. O mais engraçado é que eu sempre fico imaginando os pontos de interrogação ao contrário na minha cabeça. Sério, acho um charme. Fora os cumprimentos, os beijinhos (um só na bochecha, o que trava qualquer capixaba já preparado pra partir ao ataque do segundo) são itens de série. Não importa o escalão, do trainee ao chefão, do cara da última sala que sabe o teu nome e você não faz ideia do dele, você fatalmente receberá muitos beijinhos antes que Doña Martita chegue à sua sala com um copo de água e uma xícara de chafé (D. Martita é tudo na vida do pessoal do 2º andar).

Ah sim, atenção ao provecho, cumprimento que seria mais ou menos como nosso "bom apetite", mas que na verdade transmite uma vontade de que você aproveite o que estiver fazendo. O que nos traz cenas peculiares das 12h em diante. Não importa: antes, durante e depois de almoçar todo mundo está provechando tudo. É um coro de vozes masculinas, femininas, fumantes e não-fumantes, sopranos e barítonos passando e soltando seus provechos em alto e bom som. Claro que eu já peguei a mania e não consigo ver alguém comendo e não desejar que ela aproveite sua refeição da melhor maneira possível, mesmo que esteja comendo doritos e coca-cola.

Aí você trabalha, come uns brindes de fim de ano, mata tempo na fila da impressora, fala mais um provecho aqui, conversa com os amiguinhos pelo msn interno da empresa, trabalha mais um monte e chega a hora de voltar pra casa. Horas dos adiós e hasta mañana, de mais umas piadas internas que estarão pra nascer e o mesmo caminho de volta, pela passarela com o policial portando uma garrucha modelo 1920 URSS te quiero mucho. Os meninos vão pra academia porque a filosofia hot impera nesta casa. Minha promessa de ano novo é que eu vá entrar em janeiro. E o Fábio aguarda o cumprimento da mesma para que ele evolua na rotina e não fique 2h na esteira e fazendo abdominal apenas (retomada de fôlego, eu sei). O Fidel sempre volta antes de todos e o Guto volta já comentando sobre a seção de Yoga do dia seguinte. Enfim, quem malha é mais feliz, dizia o slogan da academia mais pop de Vitória. Mas esporte mata, vejam o que aconteceu com Leila Lopes antes de morrer. Ela passava 8h na academia e deu no que deu.

Berenice, segura, nós vamos malhar.

E viva o kick boxing.

Ode à musa:


*Chapina: gíria marota para "guatemalteca".


10 comentários:

Unknown disse...

hola, ¿qué tal?
Que legal, continue contando suas peripécias e se possível coloque fotos aqui!
Feliz pascua. Bjs.
Scheppa.

Di disse...

Renata que bom que estás a gostar da experiência, tenho pena que não tenhas conseguido Portugal:( mas não hão-de faltar oportunidades...provecha bien:) beijoooooss Di

.fábio disse...

hahahahaha... adorei!

Berenice me segurou hj em casa. Domingo realmente não é dia de malhar!

Carine disse...

Caí de rir! rs
Estou feliz pela sua felicidade, que bom que tudo tem sido melhor do que pensou que seria.... Isso é bom que assim te visito com mais gosto auheuaheuhae
Beijosss

Aline disse...

Ei primaaaaa!!
Super legal seu blog =)Mt bom saber q esta td bem ai!! E um alivio tbm!!
Ler aki, foi te imaginar falando comigo um pouco!rs E como sempre é...ri bastante!! =)
Bom...Mt boa a idéia de ter criado o blog!!
Bjuss e tddd de bom ai!!!!
Aline =)

Ana Carolina Pellegrini disse...

Querida amiga... de italiana a guatemalteca... chi direbbe! Fico feliz de ver que escreves assim tão bem. Na real, quase tão bem como eu, hahahaha! Somos raridade neste mundo, hein! Segue postando que, na medida do possível, vou lendo. E torcendo. Bacione - e não vai me dar uma de loira e esquecer o italiano só porque tá aprendendo espanhol (te achei muito animadinha com essa coisa da interrogação invertida...)

Cazulito disse...

Beleza Fidel, (exclamação de ponta-cabeça)provecho! sua pimentinha aí brother.

Elisa Ribs disse...

Além das suas histórias serem as melhores, é bom que vou treinando meu espanhol enferrujado. E tb adoro pontuações ao contrário, é tipo uma revolução ortográfica, hauahahua.
Besos chiquita.

Daniel Blaia disse...

Dona Martita!!!
Que saudades!!
hahaha
vc nao me conhece, mas li o post no Aiesec Brazil Ambassadors
Fui trainee na Novartis-CAC em 2006, trabalhava com o Jorge Duarte, Erwin Alvarado e Karen Margarita, no depto de FFE
Era ela msm que ia levar cafezinho, chazinho, etc... eu deixava direto uns quitutes na geladeira na salinha la do lado... hahahaha
dica do café: procure comprar café puro de Coban. É o melhor café da Guatemala, apesar de que não é o café arabico (cafe que tomamos no brasil), ou seja, ele nunca vai ser preto igual e forte igual, desista. hahaha

bjos

Daniel
(danielblaia.myaiesec.net)

Ciara disse...

If you have time ... read the translation on google translator... it kind of makes sense... but way too much comes out weird haha