sábado, 31 de julho de 2010

Y el Oscar va para...


Em ano de eleição no Brasil descobri que posso votar mesmo estando aqui na Guatemala, diferentemente do que me informou o cartório eleitoral vila-velhense dias antes de eu viajar. Resultado: não me preocupei em trazer meu título e não participarei da tão sonhada festa da democracia (ai meus tempos de mesária...).

Claro que eu sinto saudade de muitas coisas do Brasil, família, amigos, cachorro, praia, picolé da Ajelso... Mas foi pensando no cartório eleitoral que me dei conta de que o Brasil e a Guatemala têm certas coisas em comum que não me fazem sentir saudade do meu país e que muito menos “extrañaré” ao sair de terras chapinas: a falta de informação, a burocracia excessiva e a falta do que fazer de algumas pessoas.

Pra vocês entenderem do que se trata o post, vou fazer a linha Glória Perez e contar uma novela meio sem pé nem cabeça num lugar recôndito do mundo, no qual Fábio, Guto e eu (trainees brasileiros), Vivian Shanchez e Rocío (logo irão conhecê-las) vivemos uma história de ódio e ódio na tentativa frustrada de legalização neste país.

Brasileiro não precisa de visto para entrar na Guatemala. Mas se ele for tão louco como a gente e quiser morar no país, tem que percorrer um caminho mais sinuoso que o que tentamos fazer para subir o vulcão do Pacaya. Tudo começa no Brasil, entre traduções de documentos, carimbos, depósitos em dólar e termina em... Bem, eu já acredito que nunca termina, depois de todas nossas aventuras no temível departamento de migração, um prédio feio, com paredes sujas e amareladas, com seguranças barrigudos comendo pão com feijão e fotos de índigenas com legendas em alguma língua maia. Temos que saber separar o joio do trigo, lógico, porque há funcionários e “funcionários”, mas pegue o estereótipo do funcionalismo público no Brasil, multiplique por cinco, eleve à segunda potência e você terá uma noção do nosso apreço por esse departamento.

Ingressamos os papeis em fevereiro e nos falaram que em dois meses sairia nossa residência temporária. Três meses e o acaso nos avisou que faltavam documentos, mais outro par de meses e consultas insistentes por telefone e ao vivo e eles já não tinham mais data para sair a residência. E o pior é que nas 543 vezes em que fomos lá, já não era a mesma sala, nem o mesmo andar e muito menos a mesma pessoa com quem tínhamos que conversar para ver o status da coisa toda, pois sempre nos mandavam para 200 lugares diferentes. Não sabiam eles que eu queria mandá-los para um lugar muito mais especial e propício. Cheguei ao cúmulo de perguntar “então, linda, você pode me dar mais ou menos um prazo de quando vai sair isso?” e ser respondida com risos sarcásticos e uma cara de “vai esperando, querida”. Mas como tudo que está ruim pode piorar, eles deixam os meus papeis e do Fábio em stand by enquanto perdem os do Guto.

Na última ida à sucursal burocrática do inferno me deparei com uma das cenas mais inimagináveis na minha carreira de aspirante à cidadã guatemalteca. Descobri, enfim, porque eles levam tanto tempo em regularizar imigrantes, conseguir vistos e dar informações concretas. Assim como qualquer empregado, os funcionários do departamento de migração também precisam ser valorizados. Por isso eles gastaram todo o tempo que seria dedicado ao trabalho à ELEIÇÃO DA RAINHA DA MIGRAÇÃO! Um espetáculo de beleza, arte e criatividade espalhado pelas paredes, guichês, elevadores e escadas do edifício. Posters, banners, recadinhos e fotos num esforço eleitoral jamais visto. Ficamos tão impressionados que o Fábio começou a tirar foto de tudo enquanto eu já preparava um post imaginário. Não falarei muito mais para deixar que vocês mesmos tirem conclusões do que foi essa disputa partidária.

Só fico triste por não ter podido exercer meu direito de imigrante legal (até porque só o Deus do Milho sabe se um dia sai esse maldito carimbo no passaporte) e não votei na minha candidata, a Rocío, que me pareceu bem simpática. Ainda não voltamos lá para ver o final dessa e da outra novela, mas espero do fundo do meu coração – assim como em todos os períodos pré-eleição no Brasil-, que la Reina de la Migración possa trabalhar pelo seu público imigrante, porque apesar de insistirem na nossa ilegalidade, o povo chapin até que acha a gente bem legal.

Escolham suas candidatas! Mas como o voto aqui ainda é por papel, você pode anulá-lo de forma criativa e inovadora sempre que necessário.