quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Adiós muchachos

Talvez eu nunca consiga expressar exatamente o que significaram esses mais de 365 dias na Guatemala. Só sei que faria tudo e tudo de novo (com intervalos de descanso) se as mesmas pessoas estivessem lá, porque na verdade o que fez a diferença foi o conjunto da obra: pessoas queridas + chuva de areia preta + pessoas incríveis + tremores de terra + pessoas fenomenais + vulcão em erupção + viagens + melhores roomates do mundo + trabalho duro + nativos + idiossincrasias maias.

Enfim, entre choros e gargalhadas, o silêncio e a gritaria, este intercâmbio foi elevar a sensibilidade ao extremo e viver turbilhões a cada dia. Bem, já estou naquele momento clichê da despedida, mas como disse no post anterior, não poderia dizer adiós sem colocar o último Mira Pues no ar. Essa é mais que uma versão pocket, é o resumo do resumo do resumo porque não queríamos alongar mais a nostalgia. Então dessa vez sem créditos, sem agradecimentos e sem estagiários interferindo na gravação.

A quem chegou até aqui, os melhores dos desejos.
À Guatemala as saudades inimagináveis.

Adiós muchá, que les vaya bien.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

We're on our way home*

Acho que essa é a primeira vez em que reluto em escrever um post sobre a Guatemala. Quando pensei em criar o blog para contar minhas andanças nas terras maias, não tinha a mínima ideia de como seria chegar ao final da experiência mais linda e maluca da minha vida.

Eu compartilho a opinião de que um texto toma vida própria a partir dos rabiscos das primeiras palavras. Isso que estou escrevendo já não é meu, senão representa o caminho por onde essa história quis se entranhar. E aqui estou eu, encarando meu computador, tentando encontrar subterfúgios para me despedir deste blog e da minha vida chapina, confesso que um pouco tarde, já que há algumas horas pousei em território brasileiro. Porém, a vida aqui continua mais chapina que nunca, embrenhada de memórias, risadas, amores, emoções e, claro, com sua quantidade relativa de lágrimas.

Por isso eu me recuso a me despedir desse blog assim, a seco. Pois saibam (e eu aqui espero aguçar expectativas) que esse será meu penúltimo post, já que uma despedida de verdade exige uma edição especial (e final snif snif) do Mira Pues, ainda que a produção, direção e elenco já estejam em solo brasileiro. Entretanto, contudo e todavia (e a partir de agora é muito engraçado escrever todavia sem pensar que isso em espanhol significa ainda), declaro virtual e publicamente postergar esse adiós até onde não conseguir mais.

Nesse último mês na República de Quauhtlemallan (assim descobri eu que se chamava essa terra bonita antes dos espanhois chegarem) aproveitei pra dar umas últimas voltas no país e acabei conhecendo o que há de recôndito por aqui (quer dizer, por lá... lá na Guatemala). Assim fomos parar na cidade de Huehuetenango (creio que 80% das cidades chapinas terminam em “tenango”: Chichicastenango, Chimaltenango, Quetzaltenango... Já posso imaginar que tenango vem do maia “fim do mundo” e é claro que aí se encontra a oportunidade de visitar lugares que pessoas mais normais não fazem ideia de que existam). Huehue é até grandinha e tal, mas os povoados em volta que me pareceram coisa do outro mundo, enquanto pra eles são super normais, óbvio.

1ª parada: Ruínas de Zaculeu >> pirâmides, pirâmide e pirâmides maias. Maluco!!

2ª parada: Todos Santos
De Huehue pegamos um mini-bus por 3h subindo uma serra com o nascer do sol mais lindo ever até chegar a este pueblo na divisa com o México onde as pessoas quase não falam espanhol. Todos se vestem iguais e as lojas vendem sempre aquele conjunto básico de calça vermelha com listrinhas para os homens e saias típicas azuis para as mulheres, blusas brancas com detalhes azuis e um chapéu de não-sei-o-quê com uma fitinha azul. Enfim, descobri que pra estar na moda nativa é necessário economizar. O look completo sai entre 400 a 500 reais. O conjunto da obra é bonito e interessante, mas os tecidos cheiram a cabrito, aí vocês podem imaginar o odor dentro de uma van fechada cheiaaaaaa de descendentes maias.


O mais interessante em Todos Santos é que a vida não passa e o mais legal é sentar na pracinha e ver a vida não passando e esconder-se do frio... Aí sim você se sente um estrangeiro infiltrado entre os nativos, observando aquela língua impronunciável e tentando entender que eles fazem da vida. Isso foi fácil descobrir, porque além da agricultura, 90% do PIB do povoado é proveniente das lojinhas (em espanhol “tiendas”) que vendem de tudo: de chiclete a fralda, passando por energéticos e sopas instantâneas. A impressão que dá é que existe uma tienda para cada habitante, bizarro! Em Todos Santos aprendi 3 coisas: o ser humano realmente não precisa de muita coisa pra viver, a logística da Coca-Cola é absurda (sim, os nativos em suas roupas pré-colombianas tomam refrigerante!), e há alguns anos um japonês foi morto depois de tirar foto de uma criança do povoado. Os todo-santenses pensaram que ele e o grupo da excursão planejavam sequestrar a niña para um ritual satânico. O mais legal é que só soubemos disso depois da viagem, e depois de tirar 567 fotos de crianças, velhos e adultos, gracias, muy amable, oíste?!

3ª parada: Aguacatán – não vou comentar muito, mas a gente conheceu um rio nascendo e pegou um tuk-tuk cujo motorista se chamava Nacho e tinha um prego na orelha.

4ª parada: Momostenango (olha o tenango aí outra vez!) – só pra saber: chegamos lá para conhecer uma erosões que resultaram num monumento natural muito bonito, porém fazendo a curva numa rua qualquer nos deparamos com um desfile de fantasias totalmente aleatório. Uma produção impecável e um recuerdo eterno. Nessa vida eu nunca poderia imaginar que veria o elenco de Alice no País das Maravilhas dançando cumbia e salsa ao lado de Austin Powers e do Homem-Aranha.



Outras paradas depois... Jalapa. Viajando por lá cheguei ao vulcão (inativo, amém!) de Ipala, onde supostamente o carro chegava até quase o topo e da lá seria uma andadinha de 5 minutos até a cratera. Não foi bem assim, o carro ficou embaixo e tivemos que subir 1h entre pedras, resquício de asma e inclinações. Perdas de fôlego a parte, tudo valeu a pena quando na cratera se encontra uma lagoa linda e a paisagem e companhias perfeitas em meio a um frio cortante.




O lance é que depois de todo esse tempo de intercâmbio minha cabeça mudou (o corpo também depois das libras a mais haha), e mesmo em ares brazucas, por hoje só respiro Guatemala.

Mais fotos em um link no último post.

*Ao som dos mais queridos dos queridos: 

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A areia é preta mas a saudade é pura

A um mês e alguns dias de terminar meu intercâmbio e de começar a desabar de chorar pelas pessoas queridas que aqui deixarei e pelos momentos singulares vividos na Guatemala (ver posts sobre tatu empalhado, terremoto, chuva de cinzas, imigração etc.), chego à conclusão de que os sentimentos experimentados são os mais diversos possíveis. Saudades então, nem se fala. Poderia enumerar, se eu soubesse contar até onde chegaria esse número, as milhares de coisas não-óbvias das quais sinto falta do Brasil e tudo que extrañaré* de Guate com todo meu coração.

Para economizar meus dedos e seus olhares, melhor um Top 5, que já adianta o nosso lado:

Coisas não-usuais das quais eu sinto falta

1. Vassoura de piaçava (ao som de “Ê saudade que bate no meu coração”);
2. Transcol (acreditem, capixabas);
3. Caixa eletrônico (na Guatemala as operações são limitadas, ou você vê seu saldo ou saca dinheiro. Transferência e extrato são palavras inexistentes no vocabulário chapin, em compensação a palavra fila faz parte do imaginário social há 700 anos a.C.);
4. Ir a restaurantes e tomar sucos que não sejam de lata;
5. Sair à noite e voltar depois da 1, 2, 3, 4, 5h da manhã (aqui à 1h eles acendem a luz, desligam o reggaeton e te mandam pra fora).

Coisas das quais sentirei uma saudade absurda

1. Caronas (sério, esse é o país do jalón** e cada família da classe média tem um carro pra cada integrante, bizarro);
2. Não suar da hora em que você acorda até a hora de dormir (obrigada Vitória!)
3. Sushis de abacate sem abacate (sempre peço pra tirar, sério, qual é a função do guacamole na comida japonesa?);
4. Comer frijoles volteados no café-da-manhã vez ou outra;
5. Ir às praias do Pacífico e ficar encantada com a areia preta, achando que é a primeira bizarra maravilha do mundo.

Falando em areias pretas e no Pacífico, não é que tem um Mira Pues quentinho como o litoral guatemalteco, rapaz? Dessa vez Fábio e eu conseguimos um estagiário que roubou a cena nas gravações e resultou num vídeo um tanto quanto engraçado e repleto de piadas internas.

Que Piscinão de Ramos que nada, o lance é você ir a uma praia pública, pegar uma micose e ser feliz.

Dá o play, Maca.



*Extrañar = sentir falta
**Jalón = carona

domingo, 3 de outubro de 2010

San Blas: o paraíso não é logo ali mas a gente chega!

Fugindo da chuva vitalícia na Guatemala, um grupo de amigos e eu resolvemos investir num feriado coletivo e elegemos o Panamá como destino final. Apesar de ser de Vitória, nunca fui fã de terras muito quentes e estando na Guatemala há um ano, já me desacostumei a sair do banho suando e permanecer o resto do dia escorrendo água pelo corpo onde quer que você esteja. Na verdade Guate tem a melhor temperatura do mundo, o problema é que chove seis meses seguidos por ano. E se fica um dia sem chover, tenha a certeza que no outro cairá a cota de água do dia somada ao que não caiu no dia anterior.

Enfim, o Panamá é tão quente3 que deixa os verões de Vitória pedirem arrego. O mais interessante é que a quantidade de suor liberada é inversamente proporcional à amabilidade dos panamenhos. Não vou generalizar porque existe gente boa até na Argentina (Copa do mundo feelings), mas em todas as lojas, restaurantes e em 80% dos taxis as pessoas ou foram grossas ou ignorantes ou indiferentes à nossa presença. O que mais me marcou, de fato, foi o táxi no Panamá. Se ele estiver indo pra aonde você quer ir ele te leva, senão o motorista nem te responde e simplesmente vai embora.

Passamos um dia na capital, dormimos 1h e fomos de viagem para San Blas, um arquipélago caribenho bizarramente lindo, formado por 365 ilhas, cuja propriedade só pode ser concedida aos nativos Kuna Yalas. O orçamento de trainee nos permitiu ficar em uma ilha apenas, o que foi o suficiente para recuperar o bronzeado perdido, repor uma média de 50 horas não dormidas, fortalecer o maxilar com doses fortes de risadas de 15 em 15 minutos e gravar mais um episódio do Pocket Show Brasi-Chapin mais divertido de todos os tempos, senão o único: MIRA PUES!

Aí você pára e pensa: a menina teve que nascer no Espírito Santo, morar na Itália, completar 24 anos e ir pra Guatemala conhecer o Deus do Milho, resolver comprar uma passagem para o Panamá pra descobrir que o paraíso tem 70 judeus por metro quadrado e não precisa de banheiro.


Quem quiser conhecer nossa dura rotina em San Blas, favor acessar o Tortilla Vida, também conhecido como o "Blog do Fábio".

Assistam agora!
(Versão com legenda em breve!!!!)

sábado, 31 de julho de 2010

Y el Oscar va para...


Em ano de eleição no Brasil descobri que posso votar mesmo estando aqui na Guatemala, diferentemente do que me informou o cartório eleitoral vila-velhense dias antes de eu viajar. Resultado: não me preocupei em trazer meu título e não participarei da tão sonhada festa da democracia (ai meus tempos de mesária...).

Claro que eu sinto saudade de muitas coisas do Brasil, família, amigos, cachorro, praia, picolé da Ajelso... Mas foi pensando no cartório eleitoral que me dei conta de que o Brasil e a Guatemala têm certas coisas em comum que não me fazem sentir saudade do meu país e que muito menos “extrañaré” ao sair de terras chapinas: a falta de informação, a burocracia excessiva e a falta do que fazer de algumas pessoas.

Pra vocês entenderem do que se trata o post, vou fazer a linha Glória Perez e contar uma novela meio sem pé nem cabeça num lugar recôndito do mundo, no qual Fábio, Guto e eu (trainees brasileiros), Vivian Shanchez e Rocío (logo irão conhecê-las) vivemos uma história de ódio e ódio na tentativa frustrada de legalização neste país.

Brasileiro não precisa de visto para entrar na Guatemala. Mas se ele for tão louco como a gente e quiser morar no país, tem que percorrer um caminho mais sinuoso que o que tentamos fazer para subir o vulcão do Pacaya. Tudo começa no Brasil, entre traduções de documentos, carimbos, depósitos em dólar e termina em... Bem, eu já acredito que nunca termina, depois de todas nossas aventuras no temível departamento de migração, um prédio feio, com paredes sujas e amareladas, com seguranças barrigudos comendo pão com feijão e fotos de índigenas com legendas em alguma língua maia. Temos que saber separar o joio do trigo, lógico, porque há funcionários e “funcionários”, mas pegue o estereótipo do funcionalismo público no Brasil, multiplique por cinco, eleve à segunda potência e você terá uma noção do nosso apreço por esse departamento.

Ingressamos os papeis em fevereiro e nos falaram que em dois meses sairia nossa residência temporária. Três meses e o acaso nos avisou que faltavam documentos, mais outro par de meses e consultas insistentes por telefone e ao vivo e eles já não tinham mais data para sair a residência. E o pior é que nas 543 vezes em que fomos lá, já não era a mesma sala, nem o mesmo andar e muito menos a mesma pessoa com quem tínhamos que conversar para ver o status da coisa toda, pois sempre nos mandavam para 200 lugares diferentes. Não sabiam eles que eu queria mandá-los para um lugar muito mais especial e propício. Cheguei ao cúmulo de perguntar “então, linda, você pode me dar mais ou menos um prazo de quando vai sair isso?” e ser respondida com risos sarcásticos e uma cara de “vai esperando, querida”. Mas como tudo que está ruim pode piorar, eles deixam os meus papeis e do Fábio em stand by enquanto perdem os do Guto.

Na última ida à sucursal burocrática do inferno me deparei com uma das cenas mais inimagináveis na minha carreira de aspirante à cidadã guatemalteca. Descobri, enfim, porque eles levam tanto tempo em regularizar imigrantes, conseguir vistos e dar informações concretas. Assim como qualquer empregado, os funcionários do departamento de migração também precisam ser valorizados. Por isso eles gastaram todo o tempo que seria dedicado ao trabalho à ELEIÇÃO DA RAINHA DA MIGRAÇÃO! Um espetáculo de beleza, arte e criatividade espalhado pelas paredes, guichês, elevadores e escadas do edifício. Posters, banners, recadinhos e fotos num esforço eleitoral jamais visto. Ficamos tão impressionados que o Fábio começou a tirar foto de tudo enquanto eu já preparava um post imaginário. Não falarei muito mais para deixar que vocês mesmos tirem conclusões do que foi essa disputa partidária.

Só fico triste por não ter podido exercer meu direito de imigrante legal (até porque só o Deus do Milho sabe se um dia sai esse maldito carimbo no passaporte) e não votei na minha candidata, a Rocío, que me pareceu bem simpática. Ainda não voltamos lá para ver o final dessa e da outra novela, mas espero do fundo do meu coração – assim como em todos os períodos pré-eleição no Brasil-, que la Reina de la Migración possa trabalhar pelo seu público imigrante, porque apesar de insistirem na nossa ilegalidade, o povo chapin até que acha a gente bem legal.

Escolham suas candidatas! Mas como o voto aqui ainda é por papel, você pode anulá-lo de forma criativa e inovadora sempre que necessário.









    

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Somente por amor

Em mais umas andanças chapinas, fui parar na cidade de Xela, que pertence ao departamento de Quetzaltenango. Embarcamos num sábado de madruga eu, Fábio (Brasil), Miriam e Fidel (México), Estrella (Guate), Nina (Noruega), Malek (Alemanha) e o Pieter (Holanda).

Para aquecer os motores e espantar o sono de todos os passageiros, o motorista resolveu colocar pra tocar "A 77 piores da Guatemala" e nos fez ir ouvindo daqui a Xela (3h30 de viagem) uma seleção de música medonha no último volume. Nessa hora agradeci a Deus a existência de MP3 player e Ipods e fui ouvindo a linda sintonia entre guitarras, baterias e baixos ser invadida por um toque de sanfona desafinada nos resquícios da caixa de som do ônibus que entravam pelos meus ouvidos.

Justamente naquele sábado era a final do "Guatemaltecão", que apelidado por mim seria algo como o Campeonato Brasileiro em terras chapinas e em estádios piores que do Estrela, em Cachoeiro do Itapemirim (para quem não sabe é o time da cidade natal do Roberto Carlos, que por sinal fará um show na Guatemala este mês hehehe). A cidade estava em polvorosa, porque a final foi entre o Municipal (da capital) e o Xelaju. E como Xelaju se pronuncia como Shelarrú e absolutamente ninguém conhecia o time (a não ser a Estrella), o apelidamos carinhosamente de XelaWHO?

Depois de devidamente instalados e alimentados, fomos ver o que a cidade tinha a oferecer. Bem, algumas voltas e uns quilômetros caminhados e vimos que não tinha tanta coisa assim. E eu insisti para que fôssemos ao tal Templo de Minerva, sugestão da amiga Celeste, que seria uma construção em estilo grego no meio da cidade. O que ela esqueceu de falar era que o tal templo estava caindo aos pedaços e que tudo ao redor fedia. Só sei que a Deusa da Sabedoria deve ter remexido a tumba na Grécia, em Júpiter, ou onde for, ao saber que aquilo foi construído em sua homenagem. Depois do templo, passeamos pelo mercado, rodamos mais um pouco e saímos para terminar de ver o tal jogo em um bar na cidade. Resulta que o XelaWHO perdeu de 3x0 e o Fidel ainda gritou "goool" quando o Municipal fechou o placar. Acho que nenhum habitante de Xela iria revidar a provocação, já que 99% do lugar tinha menos de 1.50 m.

De qualquer maneira, a visita a Xela valeu porque tivemos uma experiência que não se encontra em qualquer lugar. Nessa cidade há uma lenda de uma cigana que morreu muito jovem e que todos os dias aparecia uma rosa em sua tumba. A rosa supostamente era de um casinho proibido que ela teve antes de virar pó. No final das contas, as pessoas começaram a fazer pedidos de amor à cigana e hoje todos que vão a Xela têm que deixar um recadinho na sua tumba esverdeada. Nós que não somos bobos fizemos o mesmo, porém com a dúvida cruel se a pobre Vanuscha iria entender a torre de babel em que se transformou aquele cemitério.

E como boas ideias não têm hora e nem lugar, Vanuscha Cárdenas Barajas serviu de inspiração para o 3º episódio do Mira Pues, mais cosmopolita do que nunca.

Hasta luego, muchis.


sexta-feira, 28 de maio de 2010

Chuva de prata que cai sem parar...

Quando se viaja para um país diferente (para não dizer “estranho” e gerar duplo sentido) você espera viver outros tipos de emoções, vivenciar descobertas, experimentar aventuras e tudo o que a palavra novidade pode te proporcionar. Na Guatemala já vivi tremores, viagens com animais vivos e mortos dentro do ônibus, desafios à lei da física e à lei da burocracia, enfurecimento de vulcões e quando eu esperava que nada mais poderia acontecer (ou nada tão rápido assim depois do último acontecimento)... CHOVE AREIA!

Exatamente. Estávamos eu e o Fidel (roomie mexicano) na academia (vai ver por isso choveu qualquer outra coisa que não água) quando ouvimos um pronunciamento no alto-falante: “senhores clientes, por motivos de forças naturais da natureza (?), estamos fechando a academia por que está chovendo cinza”. Depois de “sabe aquela saudade de ouvir um pagode ao vivo?”, dita pelo amigo Guido ao completar sua existência depois de descobrir um bar brasileiro em seu intercâmbio na Holanda, nunca achei que ouviria uma frase assim.

Enfim, saí pra conferir o que reservava o final do mundo maia e de fato chovia cinza e chovia pedra preta e eu como criança boba como se tivesse visto neve pela primeira vez. Assim preferi encarar as substâncias escurinhas que caíam do céu, resultado da erupção daquele mesmo vulcão que tentei subir há umas semanas por aí. Conseguimos uma carona até em casa e, para minha surpresa, também chovia pedra dentro do meu quarto, na minha cama, obrigada.

Depois dessa sacanagem do Deus do Milho, ligamos para uns amigos para ver se estava tudo bem e fiquei incrédula por 24 horas. Na TV as imagens malucas do vulcão expelindo fogo e sabe-o-deus-do-milho-lá-mais-o-que. O lance é que tiveram que retirar os moradores dos povoados mais próximos ao Pacaya, porque a lava chegou a atingir algumas casas, além das pedras (lá elas eram grandinhas). Infelizmente o Pacaya conseguiu mais umas vítimas para sua coleção. Um jornalista foi cobrir o ocorrido e acabou morrendo atingindo por uma pedra na cabeça (vamos ver se o leão morde, vamos gente?). E o Canal 7, onde ele trabalhava, fez uma homenagem muito da mórbida. Ao final do jornal da manhã, colocaram a imagem do repórter em sua última matéria, um fundo negro esmaecendo e a marcha fúnebre (!!!!!!!) tocando ao fundo.

Final (assim espero) da história: as ruas e telhados acordaram negros, aeroportos fechados, o país decretou estado de calamidade, escolas e faculdades sem aula e eu ainda tive que trabalhar, desviando de montinhos de areia e pedra para chegar à empresa. Pelo menos pudemos sair mais cedo, com um alerta laranja para chuva de cinzas!

Como cada desastre natural na Guatemala é um flash, a amiga Melina me convocou para uma entrevista ao vivo na CBN. Detalhe que eles levaram 15 minutos para conseguir me ligar porque uma mensagem dizia que não era possível encontrar o DDI da Guatemala. Senão é o fim do mundo como um todo, pelo menos todos já sabem que a Guatemala faz parte dele.

Mas vulcão por vulcão eu prefiro o nosso, porque o da Islândia tem nome impronunciável.

Só pra constar: eu não ouvi explosões e não estive perto da erupção, mas tá aqui meu momento 15 linhas de fama regional


Pacaya em erupção ontem (foto BBC)


 Meu telhado hoje de manhã


Telhado da cafeteria (era tudo bege)


Escada na empresa depois da chuva negra