sexta-feira, 28 de maio de 2010

Chuva de prata que cai sem parar...

Quando se viaja para um país diferente (para não dizer “estranho” e gerar duplo sentido) você espera viver outros tipos de emoções, vivenciar descobertas, experimentar aventuras e tudo o que a palavra novidade pode te proporcionar. Na Guatemala já vivi tremores, viagens com animais vivos e mortos dentro do ônibus, desafios à lei da física e à lei da burocracia, enfurecimento de vulcões e quando eu esperava que nada mais poderia acontecer (ou nada tão rápido assim depois do último acontecimento)... CHOVE AREIA!

Exatamente. Estávamos eu e o Fidel (roomie mexicano) na academia (vai ver por isso choveu qualquer outra coisa que não água) quando ouvimos um pronunciamento no alto-falante: “senhores clientes, por motivos de forças naturais da natureza (?), estamos fechando a academia por que está chovendo cinza”. Depois de “sabe aquela saudade de ouvir um pagode ao vivo?”, dita pelo amigo Guido ao completar sua existência depois de descobrir um bar brasileiro em seu intercâmbio na Holanda, nunca achei que ouviria uma frase assim.

Enfim, saí pra conferir o que reservava o final do mundo maia e de fato chovia cinza e chovia pedra preta e eu como criança boba como se tivesse visto neve pela primeira vez. Assim preferi encarar as substâncias escurinhas que caíam do céu, resultado da erupção daquele mesmo vulcão que tentei subir há umas semanas por aí. Conseguimos uma carona até em casa e, para minha surpresa, também chovia pedra dentro do meu quarto, na minha cama, obrigada.

Depois dessa sacanagem do Deus do Milho, ligamos para uns amigos para ver se estava tudo bem e fiquei incrédula por 24 horas. Na TV as imagens malucas do vulcão expelindo fogo e sabe-o-deus-do-milho-lá-mais-o-que. O lance é que tiveram que retirar os moradores dos povoados mais próximos ao Pacaya, porque a lava chegou a atingir algumas casas, além das pedras (lá elas eram grandinhas). Infelizmente o Pacaya conseguiu mais umas vítimas para sua coleção. Um jornalista foi cobrir o ocorrido e acabou morrendo atingindo por uma pedra na cabeça (vamos ver se o leão morde, vamos gente?). E o Canal 7, onde ele trabalhava, fez uma homenagem muito da mórbida. Ao final do jornal da manhã, colocaram a imagem do repórter em sua última matéria, um fundo negro esmaecendo e a marcha fúnebre (!!!!!!!) tocando ao fundo.

Final (assim espero) da história: as ruas e telhados acordaram negros, aeroportos fechados, o país decretou estado de calamidade, escolas e faculdades sem aula e eu ainda tive que trabalhar, desviando de montinhos de areia e pedra para chegar à empresa. Pelo menos pudemos sair mais cedo, com um alerta laranja para chuva de cinzas!

Como cada desastre natural na Guatemala é um flash, a amiga Melina me convocou para uma entrevista ao vivo na CBN. Detalhe que eles levaram 15 minutos para conseguir me ligar porque uma mensagem dizia que não era possível encontrar o DDI da Guatemala. Senão é o fim do mundo como um todo, pelo menos todos já sabem que a Guatemala faz parte dele.

Mas vulcão por vulcão eu prefiro o nosso, porque o da Islândia tem nome impronunciável.

Só pra constar: eu não ouvi explosões e não estive perto da erupção, mas tá aqui meu momento 15 linhas de fama regional


Pacaya em erupção ontem (foto BBC)


 Meu telhado hoje de manhã


Telhado da cafeteria (era tudo bege)


Escada na empresa depois da chuva negra