segunda-feira, 26 de abril de 2010

Welcome to the jungle


A Guatemala me faz feliz quando me apresenta a lugares absurdamente bonitos. Assim conheci Semuc Champey, um santuário de selva e água cristalina incrustado no meio do nada próximo à cidade de Lanquin. Depois de passar por Flores e Tikal na semana santa, o Ricardo (amigo chapin-hindu-entrevistado especial do 1º "Mira Pues" - vide 2 posts atrás) voltou para casa, enquanto Fábio e eu seguimos viagem por Lanquin, onde nos recomendaram visitar umas cavernas cheias de estalagmites e outros ites por dentro. Nunca tinha estado em um lugar assim. Você entra e a temperatura muda, escala umas pedrinhas, ouve vozes e gotas e enfrenta armadilhas... Me senti uma Goonie, pronta pra encontrar o Willy Caolho e ser salva da família Fratelli pelo Sloth vestido de super-homem. No final, tudo terminou em um banho de rio com a água mais gelada do mundo naquele povoado em que uma das 23 línguas maia é o idioma oficial.

Mas a estrela do dia foi Semuc Champey, a 20 minutos (que na cultura chapina significa 50!) do centro de Lanquin. O lugar é tão perfeito que nem o frango com pele devorado pelos nativos na beira da lagoa conseguiu estragar a beleza da coisa toda. O resultado foi que o passeio se configurou em mais uma aventura, que por sua vez serviu de inspiração para o episódio 2 do Mira Pues. Claro, uma viagem que começa com dois filmes seguidos do Chuck Norris no ônibus só poderia terminar na implantação do caos.

Divirtam-se e Welcome to the jungle (adoraria ter gritado essa frase e relembrado meus 15 anos no show do Guns para o qual eu comprei ingresso e me ferrei após ter sido cancelado e ainda não terem devolvido meu dinheiro. Quando eu fui pensar que um show de rock daria ibope na Guatemala?)!







domingo, 18 de abril de 2010

Em todos os anos nessa indústria vital...*

Há semanas estávamos marcando de subir um dos 3 vulcões ativos da Guatemala: o Pacaya, que faz parte do complexo de 32, 33, 37 - não sei bem - vulcões espalhados pelo território guatemalteco. Falando assim, parece até parque de diversões. Na verdade uns estão mais pertos, outros longe, em uns se pode subir, já em outros o acesso é complicado. O lance é que o Pacaya é o mais visitado e vários amigos já subiram, sem problema algum.

Combinamos de ir eu, o Fábio (Brasil), o Fidel (México) e os chapines Ricardo, Mariella e Luisa. Deveríamos ter saído ao meio-dia da minha casa, mas por um erro de comunicação, somado à pontualidade chapina, saímos às 13h10. A ideia era subir o Pacaya (1h pra chegar e 1h30 para subir), ver o rio de lava, o pôr-do-sol, fazer algumas piadas, descer e ser feliz para sempre. Isso senão fosse 1. O sol sumiu pouco antes de chegarmos; 2. O ar ficando mais rarefeito a cada metro caminhado (a parte do “felizes para sempre” já seria cortada a partir deste tópico); 3. Chegasse numa parte da montanha com 3 caminhos diferentes e conseguir tomar os 2 errados e ter que voltar; 4. Um acidente jamais registrado no topo do volcão – até então – acabar com a expectativa de uma tarde 100% divertida.

Quando já estávamos a muuuitos metros de altura, mas ainda longe de ver a lava e a cratera (e, na verdade, de chegar de fato ao vulcão), umas pessoas que estavam descendo nos falaram que não poderíamos subir muito mais porque tinha acontecido um acidente. Nisso subiram uns carros da polícia e dos bombeiros e vimos que a coisa era séria e quisemos subir um pouco mais para ver até onde poderíamos chegar e para aproveitar o restinho de fôlego que ainda nos restava... Até que uma cena de filme baseado em experiências reais passou na nossa frente: uma menina com o rosto cheio de sangue montada num cavalo (se quiser você pode pagar para subir o vulcão em um cavalo) guiado por dois homens descendo a montanha dizendo-nos “não vão, não subam por favor” e chorava e o sangue escorrendo. A cena foi realmente impactante, porque não sabíamos o que dizer a ela, porque até então não sabíamos exatamente o que tinha acontecido. Um outro grupo que descia nos explicou que houve uma explosão e que caíram pedras e lava (e nós ainda queríamos vê-la, obrigada) que atingiu a um grupo e que havia dois mortos. Aí o choque foi maior e quando nos preparávamos pra descer veio uma vítima que tinha uns machucados nos braços atingidos pelas pedras que nos disse para não subir e que se quiséssemos ver lava que era melhor vê-la pela TV.

Começamos a descer aquele caminho arenoso em velocidade recorde, e as ambulâncias subindo e, para piorar, a neblina limita nosso campo de visão a 5 metros e começa a chover, e a chover mais forte e mais forte e A CAIR GELO DO CÉU! Não dava nem tempo nem espaço de abrir o guarda-chuva e quando já estávamos na metade do caminho para chegar ao estacionamento (o vulcão é tão pop que até estacionamento próprio tem) ouvimos o que pode ter sido mais explosões 5 km acima. Para terminar, caiu o mundo de água quando chegamos em terra firma que chovia mais dentro que fora do carro.

Quando já tínhamos recobrado a consciência nos demos conta de que senão fosse pelo atraso estratégico na saída da capital, poderíamos ter sido testemunhas oculares do acidente que matou um guia e uma turista venezuelana... Repetindo: o primeiro acidente desse tipo registrado na história ativa desse vulcão ou na história desse vulcão ativo, ainda estou confusa. Resultado: fomos agradecendo ao Deus do Milho pela nossa vida do Pacaya até chegar em casa, sãos, salvos e encharcados e ouvindo pelo rádio uma locutora dizer “buenas tardes mis amigos en esta linda tarde de domingo”. Acho que alguém esqueceu de abrir a cortina hoje.


Antes de subir, com nossos cajados marotos alugados




No meio da bagunça




Melando o rock...

Estamos bem e no final saímos para comemorar a vida com um delicioso crepe de Nutella, que é deus em forma de sobremesa na Guatemala.


* Essa é a primeira vez que isso me acontece.

domingo, 4 de abril de 2010

Ahhhhh... O Mundo Maia!

Depois de um mês sem dar o ar da graça, voltei para contar umas passagens nas minhas andanças pela Guatemala. Para economizar cliques e acessos, vou resumir duas histórias e contá-las agora, ya, now!

Panajachel (departamento de Sololá)

O primeiro desafio de viajar na Guatemala é pronunciar o nome da cidade de destino. Não que “Panajachel” seja difícil em espanhol, mas o som da palavra ecoa como algo com o que jamais farei algum tipo de associação.  Talvez essa minha limitação deva ser porque Vitória e Vila Velha – tão comuns no meu vocabulário capixaba – não careçam de muito poder de abstração. Enfim, Panajachel (Pana para os íntimos) ainda vai, quero ver o dia em que eu for a Huehuetenango, Chalchuapa ou coisa assim. Terei que ter muito cuidado, pois uma troca de sílabas pode me levar, de repente, para um lugar mais bizarro ainda, tipo Honduras, sei lá (ok, ainda não superei o trauma).

Fomos comemorar o aniversário da amiga chapina Celeste em Pana num final de semana. Além de nós duas, foram também o Fábio (Brasil), a Miriam (México) e o nosso amigo, motorista e dublê de ator cantonês, José-Jackie Chan. Lá encontramos a Estrella (Guate) e o Malek (Alemanha). Depois de andarmos pelo mercado de artesanatos pedindo desconto até em chiclete, pegamos um barco que nos levou até o povoado de San Pedro la Laguna. Ah sim, barco porque em Pana está localizado um dos maiores lagos da Guatemala, o Atitlán, com 126 Km2. O lugar é bem bonito, mas infelizmente o lago está contaminado por uma bactéria, o que impede algumas (eu disse algumas) pessoas de tomar banho. Os riscos são os mesmos conhecidos de outros lagos impróprios: você mergulha com 10 dedos nas mãos e volta com 15 e ainda ganha um 3º olho de brinde. Resultado: qualquer gota do Atitlán que caísse em nós durante o trajeto já era motivo para desabrochar o desespero de se tornar um mutante. O mais legal do passeio foi conhecer uma hippie gringa muito bonita que nos acompanhou no barco. Imaginem só: loira, alta, olhos azuis, magrinha... E com a trança da Rapunzel embaixo do braço.

San Pedro la Laguna é um povoado muito interessante. Lá há vários bares e restaurantes legais, pousadas baratas e os nativos falam, além de espanhol, umas línguas indígenas chamadas K'iché, Tz'utujil e Cakch'iquel (agora eu dou um doce pra quem souber pronunciar isso). Seguindo a tradição chapina de beleza no rock, saímos para uma boate onde a pessoa mais bonita era o garçom, obrigada. E como quando chove Xuxa no meu colo cai Pelé (e se bobear com a Sasha no colo dele), podem imaginar as criaturas que por lá estavam. Até um aborígene neozelandês apareceu entre os hippies e os nativos na festa. Para resumir Pana, deveria dizer que os pontos altos foram: nativa tomando banho peladinha no lago, Jackie Chan “perdendo” o quarto na pousada e uma ressurreição da Shakira no início de carreira como trilha sonora local.

Tikal

Na semana santa Fábio, Ricardo (amigo chapin-hindu) e eu fomos às ruínas do império maia que estão situadas na região de Petén, a umas 10 horas da capital. Tikal foi uma das mais importantes cidades maias e o lugar é absurdo! Pirâmides, templos, palácios... Todos construídos mais ou menos entre 200 d.C. e 850 d.C. 

Eu não vou falar muito sobre a nossa caminhada de 5 horas, porque resolvemos ilustrar melhor essa experiência utilizando tecnologias pós-colombianas. Semana que vem eu conto sobre o resto da viagem. Por enquanto fiquem com a nossa mais nova empreitada, o Mira Pues (expressão mais usada depois do famoso “Fijáte” – uma espécie de “note”, “veja bem” -, dito a cada vírgula), pocket show mais chulero* da Guatemala. O nervosismo da improvisação me fez esquecer plurais e pronúncias em português (ver: "válios" e "artesãos"), sorry.


Ah sim, isso tudo era só pra dizer que eu vou fazer mais uma tatuagem, inspirada pelo mundo maia, com dois objetivos distintos: marcar definitivamente minha experiência de intercâmbio nesse lugar maluco e, claro, acertar as contas com a civilização que previu o caos em 2012.

Hasta luego, muchis.

*Chulero = bacana, legal, sussa.
Ps. Novas fotos no Orkut, Facebook e em http://picasaweb.google.com.br/re.smurari