quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Drops away from Guatemala

(Para ler com voz de sambista) 
“Alô Guatemala!! Sacode, sacode, vai!”

Um comentário rápido antes que o mundo estremeça outra vez. Eu costumo ter um sono muito pesado, de não se deixar abalar por acidentes de carro na porta de casa ou por um grupo de pagode ensaiando nas primeiras horas da manhã ou com acidentes de carro com grupos de pagode. As duas únicas coisas que me fizeram acordar na Guatemala foram um dia em que uns chapines malucos resolveram soltar fogos às 5h da manhã e o dia em que a terra tremeu duas vezes enquanto eu tentava dormir. Aqui vai a história que já contei 70 mil vezes ao vivo, 40 por teleconferência, 65 por e-mail e uma pelo jornal online mais lido do meu Estado hahaha (um beijo, Melina!)

Madrugada do dia 23/02 – Acordo com “alguém” me sacudindo, abro o olho, percebo que havia algo diferente, mas ignoro a sacudidela e meu cérebro me manda uma mensagem de que aquilo era apenas o mundo maia me embalando para dormir.

4h45 da manhã – Acordo com uns tremiliques da placa tectônica mais próxima e tenho a sensação de ter bebido um litro de vodka. “Era uma sensação de rodar e rodar e rodar...” E foi quando disse: “Berenice, segura! Nós vamos tremer”. Mentira, nem deu tempo de pensar no clássico do Youtube, mas adorei que me lembraram dessa citação um dia depois. O lance é que a cama sacudia, o teto girava, a mesa tremia e eu tentava gritar o povo da casa, mas a voz simplesmente não saía. Fiquei estática (até onde o sismo permitiu) na cama e a única reação que tive foi colocar as mãos para proteger a cabeça e agradecer pela nossa casa não ter laje no segundo andar. Dormi mal o resto da noite e só de manhã, ao conversar com os meninos, me dei conta da situação e de que todo mundo estava assustado e sofrendo sozinho hehehe.

Na Novartis o papo matinal era o terremoto, óbvio. E quando já estava todo mundo envolvido com seu trabalho novamente, eis que surge um novo abalo às 9h50 da manhã e corre todo mundo para evacuar o prédio. Resultado: agora, qualquer caminhão que passe na avenida da frente e faça tremer a janela em 0.005 graus na escala Richter já me faz pensar que é a terra se encaixando numa posição mais confortável. Mas agora já sei o que fazer, porque minutos depois do último abalo, recebemos um e-mail com dicas sobre como agir na hora do caos!

O fato rendeu um depoimento no Gazeta Online por culpa dos queridos amigos jornalistas que trabalham lá. E apesar do que alguns queriam, que tivesse gente desesperada pela rua e casas destruídas, entre mortos e feridos todos se salvaram.

O mais legal é que o terremoto foi justamente no dia em que inaugurou-se o ano no calendário maia. Logo, minha teoria é de que algum ancestral pré-colombiano resolveu quebrar tudo num after party bem maluco! Ou que a culpa é, como sempre, da Leila Lopes, porque afinal de contas tudo pode acontecer em  uma tarde com um lindo sol azul que brilhava às 17 horas.

Dedico essa matéria à Leila, que em menos de um ano já rendeu a maioria de citações desse blog.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Samba no pé que é bom, nada!

Muita gente diz que brasileiro aproveita os feriados de final de ano e já emenda o natal no ano novo e começa a vida e a prometida dieta depois do carnaval. Há anos que desconheço, infelizmente, essa sensação, já que desde que voltei da Itália em 2007 não tenho férias e em vez de emendar um feriado no outro, acabei é juntando um trabalho em cima do outro e aqui estou na Guatemala, trabalhando 8, 10, 12 horas por dia, obrigada. Portanto, um feriado tipo o Carnaval - vários dias de folga, praia, calor e festas - seria algo muito esperado. Pelo jeito vou continuar esperando, já que carnaval não é o forte por aqui, e mesmo nunca tendo sido grande fã da muvucada, eu adoraria se essa data fosse celebrada por essas bandas também.

Eles bem que fizeram uma tentativa, mas a associação de tradições na Guatemala, é claro, teria que ter suas próprias características bizarras. No começo da semana um colega holandês me ligou pedindo apoio na festa de carnaval que ele estava organizando com um dono de um bar bem legal que tem por aqui, o Cheers. Falou para avisar a “comunidade brasileira”, que para mim significa “fale com seus roomates” e levar uns sambas e tal. Até tentei me comunicar com a embaixada brazuca, mas com aquele belo horário de atendimento até às 13h, imaginei o esforço que eles fariam pra divulgar a festa. Resolvi mandar um e-mail pra descarregar a consciência, mesmo tendo visto que a agenda cultural no site deles tinha como evento marcado um show de samba em outubro de 2009! Desatualizações a parte, não recebi resposta até hoje. Mas, na verdade, foi um sinal, porque a festa em si faria qualquer passista se orgulhar pela decoração e se enforcar numa serpentina pelo quesito música.

Mais uma vez eu tentei. Cheguei, entreguei os cds para o DJ chapin, dei as devidas explicações e ofereci ajuda para escolher as músicas certas. Horas de pesquisa e downloads em vão. A desgrama do homem continou botando os mesmos reggaetons de todas as festas da Guatemala!! Na boa, eu acho que existe uma convenção de DJ’s, na qual a ala conservadora pleiteia a execução das mesmas 10 músicas em todas as festas. Ou junto com a leia seca de tudo fechar a 1h da manhã, deve ter uma lista de reprodução musical obrigatória, sei lá! E logo o Cheers, que era um dos únicos refúgios que eu conhecia onde o rock se escondia, até então, sucumbiu aos apelos do reggaeton e da salsa.

90% da festa era gringa, 50% acima de 40 anos e aí descobri que, de fato, outras embaixadas ajudaram na divulgação. Assim, as comunidades inglesa, alemã e holandesa estavam em peso e em cabelos loiros, enquanto a brasileira seguia representada por mim e pelo Fábio apenas. Bem, ser minoria eu já estou acostumada, agora ser minoria e sem voz em pleno carnaval foi um golpe à minha diplomacia. Nem o coro dos amigos gringos gritando “samba samba!” tocou o coração de salsa gelada do DJ.

Foi quando eu ouvi a introdução de um trambone e já acreditando que viria um pandeiro, uma cuíca ou algo assim, o salão se inundou com uma marchinha... HOLANDESA! Incrédula, parei pra ver a comunidade loira cantando numa língua bonitamente maluca e levantando seus copos de cerveja guatemalteca, quando começa outra marchinha e eu já com a cabeleira do zezé entalada na garganta e... ALEMÃ??? Foi tudo muito rápido, mas quando dei por mim já tinham nos jogado para um trenzinho e todos rodando o bar ao som de uma música que lembrava alguma festa do imigrante numa cidade chucrute perdida pelo Brasil. Não sabia se ria ou chorava, mas vi a esperança do samba morrer quando entre um reggaeton e outro o DJ era obrigado a tocar mais e mais marchinhas holandesas e alemãs. Nem meu chapéu fake de Carmem Miranda fez o homem amolecer. Resultado: antes do fim da festa pedi meus cds de volta, e fui aguardar a coroação do rei e da rainha do carnaval chapin 2010. O gran finale foram as pessoas sendo premiadas com um grande e fedorento (mas que parecia delicioso) queijo feito com leite das vaquinhas gordinhas holandesas de sininho no pescoço.

(Para ler com voz de juiz do carnaval do Rio)
Quesito: harmonia.
Mocidade Independente da Guatemala Marota: 7 e meio.

* Post dedicado ao amigo Guido, que vai pra sua temporada intercambista na Holanda nessa terça, país que não tem o melhor carnaval do mundo, mas que tem outras 786 mil coisas melhores que isso! Vai que é tua braço!

(Para ler como se tivesse xingando a 3ª geração da sua família)